Já se passaram dias desde que Albus chegou
em seu novo lar. Algumas pessoas prestavam atenção no que ele falava. Albus,
diferente do que elas esperavam, não queria falar a elas. Não queria pensar
sobre as coisas daquele mundo que parecia muito pronto.
Ainda se abismava com vaga-lumes os
quais considerava faíscas vivas do fogo. Ainda se assustava com as pessoas
seguindo grandes líderes que diziam saber o que era a vida e o que a morte
significava.
A última vez que teve vontade de dizer
algo aqui foi quando se lembrou da importância da luz para esse mundo. Abriu o
livro que sempre carregava consigo, chamado: Cosmogonia. Nele a história parecia
indecifrável. Ele lia alguns trechos que, apesar do hermetismo imanente, trazia
algo inteligível. Um desses trechos, justo o que Albus havia lido, poderia ser
conhecido. O trecho era o seguinte:
Como acendem e apagam os vaga-lumes
dividem sua vida, claro e escuro, a cada 24 horas em grande parte do planeta.
Mas alguma coisa aconteceu.
Como vagalumes viaja a humanidade.
Perplexos com a velocidade das coisas, sob o peso de uma vida fugidia. Quando
se pensa na luz e escuridão que toma os relatos ancestrais e a divisão entre
dia e noite, toma-se de empréstimo a junção entre o simbólico e o factual. Se a
humanidade aprendeu a se relacionar com a noite por meio do sono e da vigília,
descobriu que a jornada de trabalho molda o dia. Não agora! Humanos de olhos
abertos vigiam não suas casas a noite, mas a dos outros. Noite após noite os
Homens servem aos Homens em banquetes de calçadas, em lugares protegidos do
céu, trabalhando.
Os seres humanos conseguiram, em um
momento de sonho, a lucidez da luz. A luz dominada, antes vacilante, parece
imbatível. Imbatível mesmo frente à escuridão noturna. A aparência desse poder
conquistado deve ser lembrada. O simbolismo da luz como vida sempre foi
enaltecido em várias culturas e tempos.
Desde a Índia mais longínqua no
tempo celebra-se o festival das luzes para o combate da escuridão, pois muitas
velas e lamparinas são colocadas nas janelas, portas e interiores das casas
para mostrar o quanto todos estão vivos e persistem na escuridão da noite mais
escura do ano. Deepavali, o festival das luzes, traz dos tempos antigos a
homenagem à mudança, à resistência, ao poder da pequena lamparina ambígua: na
qual o frágil e o vigoroso persistem.
A lamparina, a pequena luz
controlada, significa mais que tudo a proteção residente no existir da vida.
Ao fechar seu livro, Albus se
lembrou de quantos outros livros existiam no mundo e se calou perdendo-se na
importância dos outros textos. Albus desistiu de fazer da sua vinda uma
religião.