sábado, 14 de abril de 2012

Vagalumes - por Pablo Gobira



Já se passaram dias desde que Albus chegou em seu novo lar. Algumas pessoas prestavam atenção no que ele falava. Albus, diferente do que elas esperavam, não queria falar a elas. Não queria pensar sobre as coisas daquele mundo que parecia muito pronto.


Ainda se abismava com vaga-lumes os quais considerava faíscas vivas do fogo. Ainda se assustava com as pessoas seguindo grandes líderes que diziam saber o que era a vida e o que a morte significava.

A última vez que teve vontade de dizer algo aqui foi quando se lembrou da importância da luz para esse mundo. Abriu o livro que sempre carregava consigo, chamado: Cosmogonia. Nele a história parecia indecifrável. Ele lia alguns trechos que, apesar do hermetismo imanente, trazia algo inteligível. Um desses trechos, justo o que Albus havia lido, poderia ser conhecido. O trecho era o seguinte:

Como acendem e apagam os vaga-lumes dividem sua vida, claro e escuro, a cada 24 horas em grande parte do planeta. Mas alguma coisa aconteceu.
Como vagalumes viaja a humanidade. Perplexos com a velocidade das coisas, sob o peso de uma vida fugidia. Quando se pensa na luz e escuridão que toma os relatos ancestrais e a divisão entre dia e noite, toma-se de empréstimo a junção entre o simbólico e o factual. Se a humanidade aprendeu a se relacionar com a noite por meio do sono e da vigília, descobriu que a jornada de trabalho molda o dia. Não agora! Humanos de olhos abertos vigiam não suas casas a noite, mas a dos outros. Noite após noite os Homens servem aos Homens em banquetes de calçadas, em lugares protegidos do céu, trabalhando.
Os seres humanos conseguiram, em um momento de sonho, a lucidez da luz. A luz dominada, antes vacilante, parece imbatível. Imbatível mesmo frente à escuridão noturna. A aparência desse poder conquistado deve ser lembrada. O simbolismo da luz como vida sempre foi enaltecido em várias culturas e tempos.
Desde a Índia mais longínqua no tempo celebra-se o festival das luzes para o combate da escuridão, pois muitas velas e lamparinas são colocadas nas janelas, portas e interiores das casas para mostrar o quanto todos estão vivos e persistem na escuridão da noite mais escura do ano. Deepavali, o festival das luzes, traz dos tempos antigos a homenagem à mudança, à resistência, ao poder da pequena lamparina ambígua: na qual o frágil e o vigoroso persistem.
A lamparina, a pequena luz controlada, significa mais que tudo a proteção residente no existir da vida.

Ao fechar seu livro, Albus se lembrou de quantos outros livros existiam no mundo e se calou perdendo-se na importância dos outros textos. Albus desistiu de fazer da sua vinda uma religião.