Preciso
da palavra. E a palavra precisa. É dela que preciso. A palavra exata, certa. A
palavra aberta, aquela que me expande. Um só signo; significados a perder de
vista. Sim, insisto.
Preciso
da palavra. Mais do que de chaves, senhas, códigos, cifras. Aquela que liberta,
não pelo que diz, mas pelo que emana. Preciso da palavra insana. Aquela que é
luz, que é encantamento. O discurso mágico, cuja verdade pulsa, cuja flecha
atinge os corações de pedra. A rota precisa, a via de acesso, por onde corre a palavra,
é o que eu peço.
Os
feitiços são como a gota da chuva que se deixa aprisionar bem nas frestas do
castelo. Se esconde do amarelo do sol, que transmuta as poças do jardim em
fumaça e leveza, em diáfanas carruagens de algodão, que no combustível do vento,
irão enfeitiçar outras bandas. Mas cuidado: não se esqueça daquela gota,
aprisionada, que se embrenhou nos recônditos mais obscuros, traiçoeira. Ela é
umidade, que penetra a unidade, corroendo, umidificando, enfeitiçando.
É
esse o feitiço que me ecoa no espírito, que me incomoda as vísceras, que me
prende, me sacode, me interrompe. Essa dor que me irrompe, essa lágrima que me
afoga, sem aviso, é graças a ela que preciso, muito, da palavra. Aquela que
quebra correntes, âncoras, vergalhões. A palavra que libera e liberta.